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sábado, 1 de junho de 2019

Cine Holliúdy: Uma série ispilicute


O adjetivo ispilicuti, termo cearecês para caracterizar algo como bom, bonito ou curioso e animado, enfim um elogio dos bons, é derivado da expressão inglesa “is pretty cut”. Tal termo já foi repetido algumas vezes por Francisgleydsson (Edmilson Filho), protagonista da série Cine Holliúdy, e parece captar o sentido desse divertido programa, traduzir para o interior do Ceará os grandes gêneros do cinema americano em meio a muito humor.
Baseada no filme homônimo de Halder Gomes, a série de Marcio Wilson e Claudio Paiva, dá continuidade ao tema dos filmes (1 e 2) e expande as discussões apresentadas na telona, agora adaptadas para as telinhas (às terças na Rede Globo e qualquer dia e hora no Globoplay), criando mais personagens para agitar a fictícia Pitombas, cidade no interior do Ceará.
A história central gira em torno da chegada da Televisão nos anos setenta e a sua concorrência desleal com o cinema da cidade já em decadência, mas administrado com todo afinco por Francysgleydsson, um idealista nato, e seu quebra-faca full time, Munízio (Haroldo Guimarães). Aterrorizados pela TV instalada na praça pública, que faz a sua clientela sumir, eles resolvem criar seus próprios filmes made in Pitombas e para isso não medem esforços e envolvem toda a cidade na sua empreitada, a começar por Marylin (Letícia Colin), a mocinha da cidade, musa romântica do seu projeto e dona do coração de Francis, afinal o amor é o grande tema da telona e das telinhas desde sempre.
Pitombas é a típica cidade do interior do Nordeste com seus personagens-tipo, o prefeito corrupto a la Odorico Paraguaçu com seu discurso cheio de nove-horas ( o grande Matheus Nachtergaele), a primeira-dama espevitada (a cômica Heloísa Perissé), o padre vaidoso (Cacá Carvalho, inesquecível Jamanta), o delegado frouxo (Brilhante Frank Menezes com sua peruca), o casal de comerciantes atrapalhados (Carri Costa e Solange Teixeira, Dona Belinha revelação), além do secretário do prefeito, a la Dirceu Borboleta( Gustavo Falcão)  e grande elenco de coadjuvantes a cada episódio. Sim, porque a cada semana temos um novo episódio da série e um novo filme a ser feito e exibido no Cine Holliúdy.
Sob as luzes da ribalta de Cinema Paradiso, Lisbela e o prisioneiro, A rosa Púrpura do Cairo e muitas outras fitas que, metalinguisticamente, trazem a sétima arte como tema, a série tem sido um sucesso de bilheteria e nos faz rir toda semana. Além dos títulos citados, podemos ver ecos de O auto da Compadecida, O Bem-Amado e O coronel e o lobisomem dentre outros no que tange à representação do Nordeste.
É interessante notar que temos uma espécie de espelhamento do filme que está sendo construído por Francis e os acontecimentos que se desenrolam na cidade, como no filme de terror sobre a “noiva cadáver” e o fantasma da primeira mulher do prefeito que volta para lhe assustar ( Ingrid Guimarães). Assim, temos filme novo no cinema e história nova na cidade toda santa semana, com destaque para A paixão de Cristo e sua tradução cearense (“ Oh, painho, por que me abondaste, macho”), episódio que considero o melhor, com direito ao padre no papel de Deus e a cidade toda assistindo e dando palpites sobre a maior história de todas.
A construção dos detalhes é muito arretada. A narração fabulosa de Falcão (a tradição do cego que tudo vê vem de priscas eras), os figurinos e penteados, os cartazes do cinema, o visual do bar, os sotaques, a seleção de elenco que mescla atores conhecidos nacionalmente com atores nordestinos, a trilha sonora bem raiz e todo trabalho da direção de arte merecem elogios.
Cine Holliúdy é mesmo um programa ispilicute, com gosto de drops e rapadura, pipoca e quebra-queixo! E não se avexe, Francisgleydsson, o Cinema morre é nunca e  a Televisão acaba pongando nele, macho!