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domingo, 30 de agosto de 2015

Fim de Babilônia...Outros Édens possíveis...


Fim de Babilônia...Outros Édens possíveis...

O capítulo final de Babilônia foi alvo de muitas críticas por parte de seus telespectadores. De forma geral, não conseguiu transmitir aquela carga emotiva típica dos desfechos da dramaturgia. Não havia muito a se resolver no último dia, além do assassino de Murilo (solução pacífica, Otávio e Oswaldão, pois se o mal foi eliminado pelo próprio mal, nosso senso moral fica apaziguado). Até mesmo o casamento da mocinha Regina (nossa rainha justiceira), cena típica dos finais, não foi tão comovente assim.

Destacou-se também na reta final, uma forte tendência para a verossimilhança. Muitas cenas pareciam ser a continuação do Jornal Nacional, obviamente ressignificadas pela ficção. As falcatruas do prefeito Aderbal (velha parábola do lobo em pele de cordeiro) e seus conchavos com as empreiteiras e depois com o tráfico refletem o nosso cenário factual. Até mesmo a prisão dele e sua fala de mártir injustiçado (“eu voltarei nos braços do povo”) se encontram com outros personagens de nossa história politica. A corrupção, mostrada na trama através de vários prismas, mostra que, como a Hidra de Lerna, quando se corta um tentáculo, outro cresce. O diálogo de Guto na Boate com seu comparsa confirma que esse monstro brasileiro, infelizmente não mitológico, continuaria a ser alimentado por Consuelo (tal e qual a Senhora dos absurdos, personagem de Paulo Gustavo). O discurso de Teresa na assembleia (pareceu-me uma homenagem à juíza Denise Frossard), mais um papel brilhante de Fernanda Montenegro, mostra que alguns Hércules estarão lá tentando deter a fera, resíduos de utopia que sustentam nosso quixotismo.

Quanto ao final de Beatriz e Inês, inspirado nos filmes Thelma e Louise e em um dos Relatos Selvagens produzidos por Almodóvar, julgo pertinente com o desenvolvimento do enredo. A relação patológica entre as duas, numa eterna e cansativa disputa, acabou por matá-las como nas tramas passionais. Como já disse antes, esse eixo central não empolgou seu público e a novela brilhou com mais intensidade nos enredos secundários. A exemplo disso, o belo romance de Rafael e Laís. Nosso Romeu e Julieta revisitado, que à despeito das diferenças incontornáveis entre suas famílias, fizeram do seu amor vida e combate, inclusive contaminando com seus ideais Maria José, que ganhou vez e voz através do simbólico gesto de soltar os seus cabelos, saindo do papel e do figurino que lhes foram impostos. A cena final do jovem casal trilhando por uma estrada irregular foi uma bela metáfora de sua trajetória.

O fantasma da audiência atormentou a trama,  um ponto a ser revisto em época de TV Fechada, Redes Sociais, Netflix e outras telinhas que nos fazem desviar o olhar. Concordo que não foi um novelão daqueles, mas o folhetim venceu com suas belas cenas de amor e suas multifaces: A paternidade chamando Bento para a vida adulta, a regeneração de Wolnei, a dedicação sem reservas de Sérgio e Ivan, a mãe acolhendo Diogo de volta no seu colo, o triângulo insólito-cômico de Walesca (como abandonar Clóvis?), os beijos polêmicos de volta, todos em uma festa, símbolo de congraçamento... Édens outros dentro da Babilônia. E amanhã novas emoções nos aguardam, novo jogo, novas regras...

sábado, 22 de agosto de 2015

Babilônia e a opção pelas sutilezas do afeto...


 
Babilônia e a opção pelas sutilezas do afeto...

                                                                        A Oldack
Essa penúltima semana de Babilônia destacou-se por cenas de imensa afetividade, despertando nossas emoções e possibilidades de catarse provocada pela ficção. Vamos a elas:
Cena 1: Karen fazendo um bolo de chocolate e cobrindo com deliciosa calda para receber Júlia, sua enteada, antes detestada e maltratada por ela e por sua filha. Ela transferia para a criança o ódio pela traição do marido. O pedido de perdão, materializado em forma de bolo, simboliza a união dos irmãos. E essa mãe arrependida tem uma linda conversa com a filha sobre seus erros e, a menina, antes resistente, cede lugar no sofá e em sua vida para a amorosa irmã que sela a nova família com o beijo na antes madrasta má, agora redimida pelo poder do perdão...
Cena 2: Sérgio acompanha Ivan na fisioterapia e para quebrar sua resistência e revolta entra na piscina com ele, como fazemos com as crianças para ensinar-lhes com nossa companhia que transmite segurança e apoio...Cena de extremo amor. Amor em forma de cuidados, amor em forma de insistência, amor em forma de puro amor, quando as adversidades se impõem e só resta mesmo estar ali para o que der e vier...Quando os planos mudam, quando o sexo  esmaece, quando basta estar por perto.. E sai empurrando a cadeira do companheiro sob um lindo por do sol...
 Cena 3: Wolney mais uma vez poderia ter cometido um crime e quando tudo levava a crer na sua culpa pelo sumiço do dinheiro no caixa do restaurante, somos surpreendidos pela sua regeneração, quase heroica...Todas as pistas eram falsas, o pen-drive, o roubo, o tênis novo, esse último, surpresa genial, presente do irmão caçula, que entra iluminando a cena com a sua inocência linda de criança...Vitória da fraternidade e da crença na mudança do ser humano...o lodo não tragou o lírio...
Cena 4: Rafael burla a segurança do hospital para passar a noite ao lado de Lais na UTI, em coma provocado pela leviandade de sua família, e pela manhã ganha a cumplicidade do médico tocado pela devoção do rapaz. Velar o sono profundo de um coma, amor sem reservas...
Cena 5: Sérgio entra transtornado no apartamento para dar a notícia da morte de Carlos Alberto para Fred. O badboy desesperado, dilacerado pela perda, busca o abrigo nos braços do tio que ele passou a desprezar pela sua homofobia doentia...a cena dá indícios que sua redenção também virá, assim como a de Karen e Wolney...
                     Além dessas cenas de extrema sensibilidade, a semana também nos rendeu algumas gargalhadas com a entrevista de Norberto na TV, com a participação especial de Clóvis e Walesca, trio que ao que tudo indica, formará um tórrido triângulo amoroso, pura luxúria e gula. A trama central continua sem frescor, Beatriz, agora é serial killer,  livrando-se de todos que atrapalham seu caminho. Como boa narrativa maniqueísta que é, Inês também merece alguma punição...Sua “sede de justiça” também a arruinou moralmente. Aguardemos a última semana, já com vontade de pular para A regra do jogo e suas chamadas instigantes....é o jogo da ficção que nos chama para mais uma partida...

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Babilônia, cidade perdida e salva...


                            Babilônia, cidade perdida e salva...

Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo” (Ap 18.10).

Babilônia, novela das 21:00, mas que ainda por costume chamamos das 20:00, vai caminhando para o fim nesse mês de agosto cercada de críticas e da praga da baixa audiência. Sim, a novela é um produto, e como tal, há de agradar o público consumidor. Começou sob o fogo cruzado do ataque religioso-fanático que se chocou com o beijo do primeiro capítulo entre as veteranas Fernanda Montenegro e Nathália Timberg. A cena foi vítima de duplo preconceito, homofobia e gerontofobia, pois nos diversos comentários que ouvimos por aí , a dupla questão sempre vinha à tona: "Duas mulheres e naquela idade"...Contornos foram feitos na trama para tornar o casal mais palatável ao gosto da família brasileira(marca da obra aberta), o que parece ter funcionado. Apagou-se o erotismo e acendeu-se o companheirismo.
Creio que a trama peca no eixo central da eterna disputa entre Beatriz e Inês, as duas protagonistas (Personagens de Dante e Camões) não nos mostraram força suficiente para elegermos nossa preferência nessa luta do mal contra o mal, e as eternas sabotagens e tramoias vão ficando cansativas e repetitivas. E até mesmo os romances das duas são insossos e sem aquela química que costumamos ver entre os personagens principais. Todavia, o que falta de êxito no eixo central, parece surgir nas tramas paralelas. É na lateralidade que nos apoiamos para continuar acompanhando o enredo.

A família do prefeito (Marcos Palmeira, excelente no seu primeiro “vilão”) é o núcleo forte da trama. Serve como vetor para criticar diversos problemas da sociedade brasileira, funcionando muito bem para a ideia de família como célula da sociedade. Ali temos a corrupção, a hipocrisia, o falso moralismo, a religião usada como escudo para justificar injustiças, tudo isso com uma dose de humor que atrai a simpatia do público. Arlete Sales, grande como sempre, representa o estereótipo perfeito da sogra-megera-matriarca-deslumbrada-preconceituosa, que comete atrocidades e se esconde sob o manto do Altíssimo, suas intervenções esdrúxulas roubam a cena. A nora (grata surpresa da baiana Laila Garin) sufocada-reprimida-traída começa a se soltar e ameaçar a estabilidade do lar. E a menina Laís (brilhante revelação Luísa Arraes), confrontando os valores impostos por sua família de porta-retratos, traz ventos novos para o clã.

E essa “família-modelo” surge justamente como antípoda da “família invertida” de Rafael, na qual pulula amor, compreensão e valores morais, a despeito de sua questionada formação. Vale notar também nessas casas o tratamento que é dispensado aos empregados, outra critica bem sintomática da nossa ainda “Casagrandesenzala”.

Além desse núcleo lateral, temos outras histórias que vão brilhando aqui e ali. O romance nascendo entre Ivan e Sérgio com todas as pressões sociais. A força da solidariedade das famílias na periferia, o mau-caratismo simpático de Luís Fernando,  um tipo bem brasileiro(dialética da malandragem em alto grau), a graça dos clowns de Norberto e Clóvis, a força visceral de várias mães em defender suas crias, o preconceito racial e a atuação policial e jurídica.

Como nessa novela não temos uma questão principal entre o bem e o mal para torcemos no fim da trama pelo reestabelecimento da ordem, vamos torcendo para que essas lateralidades continuem a iluminar nossa sede de ficção, como na bela primeira noite/alvorada de amor de Rafael e Laís ou no conto de fadas moderno da nossa Cinderela Regina...Creio que virá nesse último mês cenas que nos aproximarão mais dessa Babilônia, pois quem fez O dono do mundo, Força de um desejo, Celebridade e Paraíso Tropical tem estofo para merecer nossa confiança...