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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Entretelas balanço e promessas

Mais um janeiro se anuncia nesse fim de dezembro que teima sempre em ser agridoce. Como nos versos do belo poema Reinauguração de Drummond “Entre o gasto dezembro e o florido janeiro, entre a desmistificação e a expectativa, tornamos a acreditar, a ser bons meninos, e como bons meninos reclamamos a graça dos presentes coloridos”....Não podíamos findar 2016 sem uma última postagem no nosso Entretelas, espaço de diálogo entre Literatura e Teledramaturgia, Cinema e Séries (essa última ainda em débito pela falta de tempo e jeito dessa escriba com tantas novidades no tsunami da Netflix, confesso que perco mais tempo olhando o menu que assistindo e me apego a algumas e fico revendo). Como a época é propícia para os balanços e promessas, falemos um pouco de 2016  e de coisas futuras...
Julgo que na teledramaturgia o ano foi de duas novelas: Velho Chico e Êta mundo bom! Nas águas do Rio São Francisco, tivemos um espetáculo diário de dramaturgia, incompreendido e rejeitado por muitos, que não conseguiram navegar na barca das alegorias propostas pela trama. Não adiantou o velho testamento todo e suas pragas, Benedito Ruy Barbosa (e Cia) e Luis Fernando Carvalho mergulharam fundo nos grotões do Brasil sertanejo com suas lendas e encantados, coronelismo e utopias que saltaram da ficção para a realidade com câmaras de vereadores invadidas no país com as bênçãos de Bento dos Anjos, e realizaram uma grande novela.
Com fortes diálogos com a literatura brasileira canônica e popular e ainda salpicadas de mitologias e clássicos diversos, a novela nos deu cenas memoráveis como a das chuvas, proteção de São Jorge e outros guardiões, planos paralelos e tantos outros diálogos de rara beleza, com uma trilha sonora incomparável a reger a trama (Haverá doravante sempre um rio afogando em nós). E ao final a vida deu uma senhora rasteira na arte, mitificando ainda mais a trama já tão cercada de mistérios. A morte do ator protagonista em plano real no fim da narrativa foi tão inverossímil que não soubemos por alguns dias que dramaturgo malvado rascunhara tão perversa sequência e mesmo assim o show teve que continuar e continuou exigindo um sacrifício doloroso para o elenco e não menos para os expectadores...
Êta mundo bom! nos trouxe para aquela leveza ingênua das tramas das 18:00h, horário em que precisamos do riso leve e descomprometido que nos faz pausar da agonia do cotidiano. E Candinho, Policarpo e sua bela trupe (bem mambembe mesmo, com destaque para o grande Nanini e seus múltiplos) nos fez meninos alegres que acreditam que o bem  e o mal é assim mesmo tão dividido. Com um bom caldinho de referências com destaque para o Cândido de Voltaire e o Candinho de Mazzaropi, Walcyr Carrasco fez um trabalho genial de comédia, mas com certeiras doses de ternura e bons retratos caricaturais da cupidez humana. E vale destacar que ele sempre escala um time muito bom em papeis certeiros como Ary Fontoura, Elizabeth Savalla e Flávia Alessandra ( especializando-se em megeras louras).
No momento temos três novelas em exibição na Vênus platinada que não me empolgam muito ou quase nada. Acho que ficamos muito exigentes depois das duas acima e a comparação é inevitável. A lei do amor até que já deu uma melhorada, mas não oferece vibração e não fideliza a platéia. Como minha intenção no blog em analisar novelas é mostrar o lado A da nossa produção, entendam o silêncio como um sinal. O trio só cumpre seu papel de folhetim para o simples entretenimento, mas faltam-lhe algum ingrediente que vez ou outra abunda em outras receitas.Na carência, é melhor rever Cheias de Charme, diversão garantida e crítica social de primeira. Ou apelar para as reprises do Viva...
Nas minisséries tivemos Justiça como uma obra digna de elogios. Inovou, ousou e fez um grande trabalho com cenas lancinantes e personagens de rara densidade como a Fátima de Adriana Esteves e a mãe-pietá  de Débora Bloch, além da breguice perverso-cômica de Kellen (Leandra Leal). O conceito de justiça foi visto sob diversos olhares, oferecendo lentes de aumento sobre vários dramas. Optou bem pelo Recife e seus cenários, o espaço resultou num protagonista a mais.  A ideia dos múltiplos pontos de vista trouxe um frescor excitante para o horário. Todos bebendo das séries, mas e daí? Não há nada de novo mesmo sob o sol...
Janeiro se anuncia com uma boa promessa: Dois irmãos, adaptação do romance do amazonense Milton Hatoum. Um dos melhores romances que já li. O classifico não só como um grande romance contemporâneo, mas o ponho na lista dos melhores do Brasil. O autor revive a relação de gêmeos rivais de inspiração bíblica assim como fez Machado de Assis com o seu Esaú e Jacó. Vale mesmo ler o romance e garanto que vão querer ler outros títulos do autor. Pelas chamadas e pelo elenco a série promete. Aliás, acho que a televisão contribui com a leitura e curiosidade sobre os livros quando produzem essas obras. Afinal depois dela, Nada, nada mesmo, será como antes...

Avante 2017, Que os bons fios da ficção nos tragam boas horinhas de descuido e felicidade, afinal precisamos dessa Terceira margem... Contiuemos em diálogo dentro e fora das telas e dos livros...