A
paternidade labiríntica em As Regras do Jogo
Em As Regras do Jogo, novela das 21 horas da Rede Globo, um tema em
especial nos chama à reflexão: A representação da paternidade. Várias relações
paternas são retratadas de forma complexa e, como no estilo inconfundível de
João Emanuel Carneiro, nos convida a rever nossos paradigmas e estereótipos.
Zé Maria (Tony Ramos) que já
traz a ironia no nome, em nada se assemelha ao que se anuncia. Um vilão ambíguo
e enigmático que vai se revelando aos poucos, tem seu ponto fraco ( que faz
oscilar o pêndulo entre o bem e o mal que a novela explora) no amor controverso
que sente pelo seu filho Juliano(Cauã Reymond). Relação extremamente tensa,
agora que seu filho descobriu sua face sombria. Um pai pode amar e prejudicar
simultaneamente seu único filho em nome de sua irmandade/facção? Um filho pode
querer a prisão do pai, antes idolatrado, em nome de sua sede de justiça? Nesse
sacrifício de Isaac revisitado, tudo ainda pode acontecer. Personagens tão díspares
questionam esse amor que seria incondicional.
Outra relação paterna
inusitada é a de Romero Rômulo (Alexandre Nero) com Ascânio(Tonico Pereira).
Ascânio seria o que se chama no jargão da malandragem seu “pai da rua”, o
malandro que o acolheu na marginalidade e o ensinou as primeiras lições do
crime, explorando o “potencial do filhinho”. RR seria uma espécie de Oliver Twist
que nutre amor e ódio, raiva e pena, atração e repulsa, desprezo e piedade pelo
seu mentor. Aliás, esses mesmos sentimentos são despertados em nós
telespectadores pela brilhante atuação de Tonico Pereira. Para alargar mais
esse modelo de família marginal entra em cena Atena (Giovanna Antonelli), que passa a ser mais um membro
do clã, alimentando no ”velho” uma paternidade incestuosa, uma nova parceria, pois
tudo naquele núcleo é meio amoral. Não esqueçamos que Tóia (Vanessa Giácomo) e Romero em tese são irmãos, pois
são filhos da mesma mãe(ela, adotiva amada, ele, biológico rejeitado).
Na mansão
dos Stuart, o patriarca capitalista e atormentado é desafiado pelo neto
comunista, pela filha bipolar, pela esposa ética e pela neta rebelde. O genro
que seria seu modelo de filho e sucessor é um blefe. E ainda há o mistério
sobre a paternidade dos filhos de Nelita (Bárbara Paz), que, ao que sugere a
trama, virá dos segredos da área de serviço.
Mas o PAI da
trama é o nosso Feliciano(Marcos Caruso), um pai agregador, um amor sem
reservas. Naquela cobertura, o metro quadrado mais habitado de Copacabana, o
amor paternal transborda, há lugar para tudo e todos e o conceito de família
vai ganhando novos contornos inimagináveis. Com aquela dose maravilhosa de
humor e crítica de costumes, carnavalização completa.
Sigamos
pelos labirintos da narrativa, à espera das surpresas que a trama ainda trará, a
nos surpreender a cada capítulo com seu título inédito que nos convida para novas emoções
e às novas regras...
O Ascânio é um dos melhores personagens que apareceu na TV ultimamente. Vira folha, mau caráter, asqueroso e ao mesmo tempo hilário. Quando está bêbado chamando o Romero de “meu filhinho” não tem quem segure o riso. Conseguiu fazer algo melhor que o Mendonça, da Grande Família. A parceria com a Atena foi outro acerto.
ResponderExcluirA parte do Feliciano, acho forçada algumas vezes, mas deve ser de propósito esse troço meio nonsense, um cortiço moderno. O nome dele já diz tudo, não tem tempo ruim pra o cara. Pobre e falido, adota todo mundo no que parece ser uma mistura de várias famílias modernas. O filho malandro que não quer trabalhar, a lésbica com a parceira, a família inteira da filha mais velha, ex nora, atual nora com um pseudo irmão, uma ex empregada. E a ainda fica feliz porque vai ganhar um neto. Lambe todas as crias, mas tem as maneiras de dar limites e também enrolar quando quer. É aquele cara do bem que a gente torce. Espero que ele se acerte com a mulher do primo rico.