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terça-feira, 8 de março de 2016

Êta Mundo Bom...Um Caldinho Cultural


 

    A novela Êta Mundo Bom! de Walcyr Carrasco nos brinda todos os dias com uma trama leve, divertida e deliciosamente previsível. Entendemos aqui o previsível como uma virtude e não um defeito a ser cobrado. Pautado claramente nos pilares folhetinescos, já sabemos o que esperamos, mas mesmo sim é prazeroso acompanhar. O bem e o mal devidamente separados,  identificados e bem representados em personagens que não jogam com o telespectador. Já dizem a que vem desde o inicio, como é o caso da megera vivida por Flávia Alessandra, a antagonista loura má, papel dantes vivido por ela mesma em Alma Gêmea.

    O enredo dialoga com muitos clássicos da literatura, uns de forma mais explícita, outros mais oblíquos. O Cândido de Voltaire é a mola mestra da trama, nomeia o protagonista e ecoa em todo seu núcleo, com alguns ajustes de nomes e papéis. O professor Pangloss, virou Pancrácio (nome machadiano), na excelente interpretação de Marco Nanini, fazendo vários papéis para sobreviver sem trair seus princípios filosóficos (lembro-me bem de Um Sonho a mais quando ele e Ney Latorraca vestiam-se de mulher, pura transgressão nos anos 80), pautado no otimismo absoluto de vivermos nos melhores do mundo, mesmo com tudo desmoronando ao seu redor. Os filmes de Mazzarropi, personagem simbólico do matuto brasileiro ( a La Jeca Tatu de Monteiro Lobato) é outra fonte explícita.

    Além disso, podemos ir desenrolando o novelo da trama e vendo ecos  de O Pagador de promessas de Dias Gomes( a amizade com o burro), O jardim secreto através do pequeno cadeirante maltratado pela madrastra ou o próprio fato de o burro chamar-se Policarpo, o que nos remete a Lima Barreto. É um belo caldo cultural que vai engrossando nossa sopinha das 18h e nos fazendo vibrar pelas soluções simples e certeiras. Também vale notar que o autor dialoga com ele mesmo, para além do intertextual, temos o intratextual, pois estamos novamente apreciando em alguns momentos os mesmos motes de O cravo e a rosa, Chocolate com pimenta e Alma gêmea, outros saborosos sucessos de Walcyr também exibidos na boca da noite.

    Socialmente, temos um Brasil com os valores dos anos 40, a virgindade como tesouro moral, a sexualidade velada( a cena do cegonho foi hilária), o patriarcardo-machista que oprime as mulheres (núcleo de Tarcísio Filho é um prato cheio), a religiosidade crédula, a mãe solteira  excomungada do seio da família, entre outros temas tabus que nos fazem até sorrir hoje. A pensão é um capítulo à parte(todas as pensões nos remetem a Balzac e a Eça), um microcosmo perfeito dos vícios e virtudes humanas, uma amostra de todos nós. Cenários, figurinos, trilha sonora e diálogos bem construídos dão um tom de inocência e beleza típica do nosso amado maniqueísmo.

    A trama é boa porque simplesmente é boa, como na novela do rádio que os personagens vão acompanhando e se emocionando(metonímia do encantamento das narrativas, seja qual for o veículo). As ações vão se desenrolando agilmente, com grandes possibilidades de redenções amorosas como  acontece com os melhores folhetins, afinal um Romeu tem que render-se à sua Julieta. E nós seguimos torcendo por Candinho e  por todos os mocinhos e mocinhas, e até mesmo pelos vilões. Eta, lasqueira!!!

14 comentários:

  1. Que doçura de leitura! Parei minhas obrigações dissertativas para ter o prazer de ler seu texto acompanhado de um bom café... A novela me lembra Alma gêmea, O cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta...
    Beijos!

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  2. Êta Mundo Bom!Êta texto bom! Bom de ler, de reler, de pensar, de refletir...e de elogiar! Parabéns, Alana alada, dá até vontade de ver a novela!.. rs rs.

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  3. Eta menina sabida que sabe ler imagens, textos, sugestoes, implícitos e explicitos! Essa é minha amiga Alana!!

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    1. Aprendemos juntas essas lições! E vamos afinando com o tempo! Obrigada, sei que não gostas tanto assim de novela!

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  4. Como disse o Aleilton, dá vontade de ver a novela! Parabéns, "textaço"!

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    1. Obrigada, Fernanda, pedacinho de Feira na Espanha!Para vc. não esquecer como é boa nossa teledramaturgia.

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    2. Alana, que bom tê-la como comentarista de novelas. Como sempre, brilhante.

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    3. Alana, que bom tê-la como comentarista de novelas. Como sempre, brilhante.

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  5. Êta delicia de leitura! Encantada com seu texto Alana. Essa realmente é uma das novelas que nos faz ter vontade de ficar vendo TV, embora esteja difícil fazer isto nos últimos dias

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    1. Muito bom os textos do blog. Vi por indicação de amigos. Parabéns

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    2. Obrigada, é sempre um prazer encontrar interlocutores!Apareça!

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  6. Muito bom os textos do blog. Vi por indicação de amigos. Parabéns

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