A novela Vai ne fé de Rosane Svartman tem sido uma renovação no prazer dos
apaixonados pela teledramaturgia. A autora que já tinha seu nome e sua marca ao
lado de Paulo Halm em duas outras tramas de destaque, Totalmente Demais e Bom Sucesso, agora segue brilhando em sua
autoria e traz sopro e barro novo ao horário das 19:00h.
A narrativa tem muitos pontos altos,
falemos de alguns. A protagonista Sol, Sharon solando mesmo em cada cena, e
sendo estrela maior de um sistema que gira ao seu redor, tem nos brindado com
cenas de força e leveza que mostram as agruras de uma mãe lutadora para criar
suas filhas, cuidar da mãe e ser o esteio da casa depois da viuvez. E ainda tentando conciliar tudo isso com seus sonhos,
fantasmas do passado e dilemas amorosos.
Dentre desse sistema SOLar temos suas
filhas, Jenifer Dayane e Maria Eduarda e a avó das meninas, a brilhante Elisa
Lucinda, todas quatro buscando seu lugar e voz em meio às adversidades, mas sem
perder a ternura jamais. E ainda cabem duas outras estrelas nesse mundo, Bruna
e Katy (Como não amar essas duas! E aquela cena da volta da filha pródiga
pedindo perdão!) que somam e dividem as dores e as delícias do cotidiano
suburbano, com suas quentinhas, seus modelitos, suas paródias e suas aventuras
e desventuras, pois tudo cabe naquela Parati, naquela Van ou naquele
ônibus de Piedade.
Ainda vale destacar nesse núcleo, a
representação positiva dos evangélicos, ao contrário da caricatura recorrente
em outras tramas. A figura do pastor Miguel (Adriano Canider) que funciona
mesmo como um líder cristão que pratica um evangelho de amor e acolhimento e
vai guiando seu rebanho amorosamente e combate a falsa fé e suposta
superioridade moral de suas ovelhas.
A luz de Sol ilumina os outros núcleos,
com a idealista Jenifer chegando à Faculdade de Direito, chegamos em Lumiar,
linda e talentosa advogada e professora de Direito que tem como fragilidade o amor de Ben, outro
sol da trama, brilho de Samuel de Assis. O advogado no seu dilema ético e racial, vai se descobrindo cada vez
mais incomodado em sua bolha. A
convivência com os jovens estudantes, em sua maioria negros e sonhadores como
ele foi um dia, faz seus planos mudarem. Só o que acontece com o núcleo jovem
naquela universidade daria um texto que não cabe aqui. O reencontro com a
princesinha do baile e sua filha (ou não, pende para Theo infelizmente) traz
seu passado de volta e ele quer mudar seu rumo.
Ainda através dos raios de Sol chegamos
aos palcos com Lui Lourenço e sua trupe. Sol volta aos palcos e isso muda os
rumos de suas certezas. Na trupe de Lui, temos em cena “Vitinho Lo Bianco”,
quem não queria um assistente daquele? E nosso astro a la Magal, é um drama em
gente, sofre por tudo e, sobretudo, por sua carência.
( E agora silêncio total, abrem-se as
cortinas, rufem os tambores) surge Wilma Campos! Ave, Renata Sorrah! Essa
personagem fabulosa, estrela preterida e incompreendida, é uma verdadeira ode à
arte de representar e à metalinguagem. Ela tem protagonizado diálogos
incríveis, trazendo textos da nossa tradição literária e das telas para suas
falas. Aquela cena dela com seu par Fábio Lourenço, no restaurante no escuro,
foi catarse pura, tão comovente que até despertou a vocação da dançarina
pilantra, Érica, que está caminhando para a sua redenção através da arte. Wilma
me lembra muito Eugenio, o inesquecível mordomo de Vale Tudo vivido por Sérgio
Mamberti, que ia relacionando os fatos da trama com clássicos do cinema. A
autora e seu compadre Paulo, são feras nessas citações, haja vista Bom Sucesso,
uma homenagem aos livros e totalmente demais, uma releitura de Pigmaleão, My Fair Lady e cia.
Ainda pela luz de Sol, chegamos à casa
do terrível e repulsivo Theo, interpretação tão boa de Emilio Dantas que dá
asco na gente, mau pai, mau marido, mau amigo, mau tudo. Sua inveja obsessiva
pelo amigo Benjamin, faz ele querer tudo do outro, mas sabemos que jamais
alcançará. Empresário criminoso, vive na corda bamba porque a vida dele é uma
farsa completa, Orfeu dará o inferno dele (assim esperamos) e sua família se
libertará!
Como já disse são muito pontos altos na
trama além dos principais raios de Sol. O
protagonismo negro, a trilha sonora variada, a qualidade dos diálogos, a abertura com
aqueles fragmentos de Brasil, o retiro em Lumiar, os figurinos, a qualidade dos ganchos, o humor refinado e tantos
temas sociais e injustiças que vem a nós todos os dias assim na trama como nos
jornais e redes. O racismo que grita, os meandros morosos da justiça, a
estridência das redes sociais que tanto levanta quanto derruba reputações, o
tráfico que coopta os jovens (Salve, Mc Cabelinho!) e os dramas morais e triângulos amorosos que
fazem sempre o alicerce das grandes histórias desde sempre, porque personagem
bom é personagem ambíguo e nessa novela todos são! Por isso Vamos na Fé sempre!
Graças a Deus, à Santa Clara e aos Orixás também para o bem de Ben! E a Molière também!!!!!
Maravilha!!Parabéns pela análise!
ResponderExcluirMaravilhoso! De fato, raios de sol!
ResponderExcluirMaravilhoso texto ! Suas análises deveriam chegar até os atores e autora .Parabéns, pró!
ResponderExcluirObrigada, Fiat lux! Esse chegou!
ExcluirAlana, você assim como Sol traz brilhante luz através de suas análises das cenas das novelas! 😍💐
ResponderExcluirMuito obrigada! Sigamos em diálogo.
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