A
imagem da Mulher Maravilha com seu
collant (naquele tempo não se dizia body)
baseado na bandeira dos Estados Unidos, sua tiara, seu laço da verdade e seus
voos e saltos povoaram toda a minha infância e acredito que todas as meninas da
minha idade. Afinal, era uma mulher dentre tantos super-heróis. Eis que tive um
maravilhoso reencontro com ela essa semana na nova versão do filme Mullher
Maravilha (2017) sob a direção de Patty Jemkins, com roteiro de Allan Heinberg.
Agora,
Diana Prince (Deusa da caça e princesa) representada pela talentosa e
lindíssima Gal Gadot, é construída com a força de suas origens míticas, e essa
parte inicial conduz toda a diferença nessa narrativa. Ela é a Princesa das
Amazonas, lendária tribo de mulheres guerreiras, treinadas desde a infância
para combater o Mal, representado pelo mito grego de Hades (Deus dos infernos), no filme Ares, vilão da DC. Vivem
isoladas numa Ilha paradisíaca quando, numa espécie de portal do tempo, o piloto Steve Trevor (Chris Pine) vem ferido
parar nessa ilha (tal cena nos remete á Odisseia, quando Ulisses aporta na Ilha
de Ogígia e é aprisionado pela deusa Calipso), na verdade um espião (revelado
pelo laço da verdade) soldado da Primeira Guerra (naquele tempo ainda A Guerra,
pois não sabia-se que viria a Segunda).
A partir desse inusitado encontro de tempos
históricos, filosóficos e ideológicos tão distintos nasce a raiz dessa
arrebatadora trama. Diana Prince segue com Steve para os “Tempos modernos” e
vai combater nas trincheiras da Guerra usando suas armas, seus super poderes e,
sobretudo, seu código de ética heroico pautado nos valores do mundo grego. Ela
o acompanha acreditando estar em busca de Ares e que ao derrotá-lo o mundo
estaria salvo do Mal. É simbólico o fato de ela se apresentar, dizer seu nome,
sua origem e de onde vem, sempre que vai combater um inimigo (era o usual nas
guerras antigas). O choque entre esses dois mundos se dá em vários momentos e
suscita diálogos hilários. Para ela é incompreensível os motivos de uma guerra,
os modus operandis e as estratégias usadas
pelas tropas modernas que lutam por riquezas e poder. A passagem dos
mercenários negociando com eles é bastante significativa ( e a redenção deles
no final muito emocionante).
Eis a grande sacada do filme, a oposição entre esses dois mundos. O
grego orientado, representado pela nossa Mulher Maravilha, e o moderno
desorientado, representado por Steven e demais envolvidos na Guerra. Mas ao
longo do filme, Diana vai imprimindo em Steven e em seu pequeno e inusitado
exército seus valores e eles vão se moldando aos ideais guerreiros do mundo
helênico e é claro que surge uma linda história de amor, doação e heroísmo (não
conto mais para não dar spoiler).
Eis também um grande filme... Diana, de fato, encontra o Ares que
buscava (excelente surpresa de quem ele é realmente), e a batalha épica entre
eles é colossal com belíssimos efeitos especiais e aquela emoção que nos faz
pular da poltrona ou do sofá (no meu caso da cama)! Apesar dos horrores da
Guerra e da distópica ideia de que o mal vige no homem como cunhou o Riobaldo
de Guimarães Rosa, o final é glorioso e vivificante, vence a ideia de que
apesar da coexistência do Bem e do Mal, nossas ações e decisões podem mudar o
rumo da História e das nossas histórias e que como não somos super-heróis não
pudemos salvar o mundo, mas podemos salvar o dia de algumas pessoas...Vale a
pena ver e rever essa venturosa heroina....De collant ou de Body...
[1] LUKÁCS, Georg. A
Teoria do Romance. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Ed. 34,
2000.