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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Babilônia, cidade perdida e salva...


                            Babilônia, cidade perdida e salva...

Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo” (Ap 18.10).

Babilônia, novela das 21:00, mas que ainda por costume chamamos das 20:00, vai caminhando para o fim nesse mês de agosto cercada de críticas e da praga da baixa audiência. Sim, a novela é um produto, e como tal, há de agradar o público consumidor. Começou sob o fogo cruzado do ataque religioso-fanático que se chocou com o beijo do primeiro capítulo entre as veteranas Fernanda Montenegro e Nathália Timberg. A cena foi vítima de duplo preconceito, homofobia e gerontofobia, pois nos diversos comentários que ouvimos por aí , a dupla questão sempre vinha à tona: "Duas mulheres e naquela idade"...Contornos foram feitos na trama para tornar o casal mais palatável ao gosto da família brasileira(marca da obra aberta), o que parece ter funcionado. Apagou-se o erotismo e acendeu-se o companheirismo.
Creio que a trama peca no eixo central da eterna disputa entre Beatriz e Inês, as duas protagonistas (Personagens de Dante e Camões) não nos mostraram força suficiente para elegermos nossa preferência nessa luta do mal contra o mal, e as eternas sabotagens e tramoias vão ficando cansativas e repetitivas. E até mesmo os romances das duas são insossos e sem aquela química que costumamos ver entre os personagens principais. Todavia, o que falta de êxito no eixo central, parece surgir nas tramas paralelas. É na lateralidade que nos apoiamos para continuar acompanhando o enredo.

A família do prefeito (Marcos Palmeira, excelente no seu primeiro “vilão”) é o núcleo forte da trama. Serve como vetor para criticar diversos problemas da sociedade brasileira, funcionando muito bem para a ideia de família como célula da sociedade. Ali temos a corrupção, a hipocrisia, o falso moralismo, a religião usada como escudo para justificar injustiças, tudo isso com uma dose de humor que atrai a simpatia do público. Arlete Sales, grande como sempre, representa o estereótipo perfeito da sogra-megera-matriarca-deslumbrada-preconceituosa, que comete atrocidades e se esconde sob o manto do Altíssimo, suas intervenções esdrúxulas roubam a cena. A nora (grata surpresa da baiana Laila Garin) sufocada-reprimida-traída começa a se soltar e ameaçar a estabilidade do lar. E a menina Laís (brilhante revelação Luísa Arraes), confrontando os valores impostos por sua família de porta-retratos, traz ventos novos para o clã.

E essa “família-modelo” surge justamente como antípoda da “família invertida” de Rafael, na qual pulula amor, compreensão e valores morais, a despeito de sua questionada formação. Vale notar também nessas casas o tratamento que é dispensado aos empregados, outra critica bem sintomática da nossa ainda “Casagrandesenzala”.

Além desse núcleo lateral, temos outras histórias que vão brilhando aqui e ali. O romance nascendo entre Ivan e Sérgio com todas as pressões sociais. A força da solidariedade das famílias na periferia, o mau-caratismo simpático de Luís Fernando,  um tipo bem brasileiro(dialética da malandragem em alto grau), a graça dos clowns de Norberto e Clóvis, a força visceral de várias mães em defender suas crias, o preconceito racial e a atuação policial e jurídica.

Como nessa novela não temos uma questão principal entre o bem e o mal para torcemos no fim da trama pelo reestabelecimento da ordem, vamos torcendo para que essas lateralidades continuem a iluminar nossa sede de ficção, como na bela primeira noite/alvorada de amor de Rafael e Laís ou no conto de fadas moderno da nossa Cinderela Regina...Creio que virá nesse último mês cenas que nos aproximarão mais dessa Babilônia, pois quem fez O dono do mundo, Força de um desejo, Celebridade e Paraíso Tropical tem estofo para merecer nossa confiança...


7 comentários:

  1. Alana, gosto deveras da sua crítica construída em alicerces literários. Dizer que Gilberto, dono de um Lattes invejável em se tratando de audiências, "tem estofo para merecer nossa confiança" é mais que digno. Pois, quem melhor para construir tantas "famílias de porta-retratos"?! Gosto deveras dessas colococações singulares.

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    1. Caríssimo Gutho, fico deveras feliz de tê-lo como leitor! Partilhemos aqui mais essa nossa afinidade!

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  2. Alana, gosto deveras da sua crítica construída em alicerces literários. Dizer que Gilberto, dono de um Lattes invejável em se tratando de audiências, "tem estofo para merecer nossa confiança" é mais que digno. Pois, quem melhor para construir tantas "famílias de porta-retratos"?! Gosto deveras dessas colococações singulares.

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  3. Verdade, Alana! Babilônia pode não ter sido a melhor novela de Gilberto Braga, que já nos fez amar Bebel (de Paraíso Tropical) e odiar Felipe Barreto (de O Dono do mundo), mas a trama teve seus acertos. O ponto alto maior, para mim, é o núcleo do prefeito, pelos motivos apontados por você! E Arlete Sales, cá pra nós, na interpretação, é "puro chiquê"!! Adorooo!!

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    1. Concordo, Fabíola. Gilberto Braga é um grande autor e ainda pode incrementar essa reta final. Sua leitura é "puro chiquê"!

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  4. Delícia de crítica, cara Alana. De modo geral, gosto da novela e confesso que me irrita a possibilidade de que a baixa audiência da trama esteja ligada ao recrudescimento dos setores mais conservadores da sociedade. Será preciso força e coragem para enfrentar esse mal. Mais uma vez, parabéns pelo texto!

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    1. Weslei, que alegria você por aqui! As vezes acho que o papel da novela no Brasil é tão importante que até queremos dar a ela uma função que ela não tem ou nenhuma obra de arte tem: ser mais verossímil que a vida real. Penso que os avanços já são muitos, se pensarmos de Torre de Babel para cá, na qual as personagens gays morreram na explosão do Shopping, ou em A próxima vítima (os atores apanharam na rua). Sigamos...com o nosso espelho mágico!

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