A Regra do Jogo ou o
Jogo sem regras ?
Na Teoria da narrativa existem dois tipos de personagens
classificadas como Personagens Planas ou Desenhadas e Personagens Circulares ou
Esféricas. As primeiras são aquelas mais simples, bem típica dos contos de
fadas tradicionais nos quais facilmente identificamos os mocinhos e os vilões.
Já a segunda estirpe, é composta justamente por aqueles perfis psicológicos que
não se doam docilmente à nossa interpretação. Exigem olhar atento, vão se
modulando e nos surpreendendo no desenrolar da trama. Membros dessa segunda
prole de papel povoam A Regra do Jogo, nova novela das 21, de João
Emanuel Carneiro. Saudado como renovador do gênero desde o inquestionável
sucesso de Avenida Brasil. Parece
que novamente nos toma de assalto e nos nocauteia a cada capítulo, sem dúvida
ele faz parte da Tropa de Elite da teledramaturgia.
Todas as personagens principais jogam o jogo da ambiguidade.
Como insinua o tabuleiro de xadrez da abertura, nem tudo é preto no branco, nem
mesmo preto ou branco. Romero Rômulo, o protagonista mais complexo da linhagem
da teledramaturgia global (se minha memória não me trai) é um mix de personaes diversas. Misto de líder popular
com gangster só para começar. Como todo bom herói (ou anti) tem uma origem
familiar conturbada e uma trajetória repleta de segredos. Será preciso retornar
às origens para cumprir seu périplo. E para colorir ainda mais suas tintas, um
drama humano o habita, uma doença degenerativa. Ele é um turbilhão de emoções e
conflitos tão bem expostos pelo magistral Alexandre Nero (já exorcizou o
comendador) que vem nos inquietando com o seu endemoninhado Rock and Roll. Quem
é de fato esse homem? Ou Quem tem medo de Romero Rômulo? Parecem ser o eixo
central da novela.
Todos têm algo a esconder, todos têm uma face oculta sob a
face neutra. Segredos, sussurros e papéis guardados na gaveta dos armários e da
memória ameaçam se revelar a cada instante. Os becos tortuosos e labirínticos
do Morro da Macaca, com sua infinita rede de fios, portas, janelas e frestas
parecem simbolizar os meandros complexos da alma das personagens. Zé Maria
(Toni Ramos, brilhante em qualquer papel), na penumbra, anuncia sua volta para
luz. A professora e mater dolorosa Djanira (Cássia Kiss Magro), é um poço de mistério.
A sedutora-picareta Athena (Giovana Antonelli) é também Francineide, oscilando
entre o sonho do jet-set e a realidade do quarto de pensão. O executivo cortês (Du Moscovis) é
um dos líderes da FACÇÃO, uma irmandade onipresente e onisciente, com toda
carga dramática dos bons filmes de máfia. A “família” disputa o poder com seus
códigos (a) morais.
Aliás, as relações familiares complexas é outro ponto alto
da intricada rede. Paternidades e maternidades variadas, com toda dor e delícia
dos vínculos biológicos e sociais, refletem sobre as células da sociedade. Adisabeba
(arrebatadora com o brilho dourado de Suzana Vieira) é a mãezona do Morro, nossa
Jocasta suburbana. A sua relação de proteção com o filho estende-se para todos
ao seu redor. O núcleo Gibson Stuart(José de Abreu), talvez o mais denso, traz
Nelita(enigmática Bárbara Paz) como metáfora
explícita da ambiguidade, é anjo e demônio
juntamente. E no quesito comicidade, o voto vai para Feliciano Stuart( Adorável
Marcos Caruso). A sua grande
família-trapo rouba a cena. Ele, fidalgo decaido que não perde a elegância jamais,
com seu Robe de Chambre e bolo de contas vencidas, brinda a união da família com
champanhe em xícaras Duralex. Como numa pizza mezo burguesia/ mezo classe-média.
O jogo está lançado e parece não haver regras entre os
participantes. Tudo ainda em aberto. Todos suspeitos sob nosso julgamento do lado de cá e de lá da tela, como
na bela música da abertura “É O juízo final, a história do bem e do mal”. Alguns
resíduos de esperança se insinuam nesse mundo tão distópico. Tóia e Juliano (Vanessa
Giácomo e Cauã Reymond, não precisam mais provar que são grandes atores), casal-símbolo
da possibilidade da persistência do bem sobre o mal, começam a passar por suas
expiações....resistirão? Aguardem cenas
dos próximos capítulos...
Olá,
ResponderExcluirmais uma excelente análise . Alana, como sempre, nos brinda com sua cultura e seus comentários. Vamos em frente !
Pois é. Continuemos assistindo á novela.
ResponderExcluirAlana, excelente análise dos capítulos iniciais de A Regra do Jogo! Todos estamos naquela expectativa: será que o João Emanuel Carneiro conseguirá repetir o sucesso estrondoso de Avenida Brasil? Pelos capítulos iniciais, parece que sim!
ResponderExcluirSe continuar assim, logo será convidada para comentar novelas no vídeo show. Rsrs!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJá vejo o workshop littera com Alana no Projac.
ResponderExcluirOlá, Monstrinho, quem sabe?...Vamos profetizar...tenho muita vontade de conhecer essa fábrica de sonho...
ResponderExcluirUM COMENTÁRIO DA MINHA QUERIDA PRIMA SOBRE MERCADORIA DA GLOBO PÕE NOBREZA E VALOR NA MESMA. O PROJAC NÃO A MERECE.
ResponderExcluirEssa novela está igual a um filme de ação. Não dá tempo pra o cara respirar, só depois que acaba cada capítulo é que dá tempo de pensar no que aconteceu. Promete. Só não pode desandar que nem a Babnilônia
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