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quarta-feira, 29 de julho de 2015

Meu pedacinho de chão e sonho

Meu pedacinho de chão passa a ser um marco na teledramaturgia brasileira. Ultrapassando a sua barreira de remake, Benedito Ruy Barbosa impõe seu talento de dramaturgo. Construída a partir de linguagem e cenário teatral, tem a capacidade de nos transportar no fim das tardes para um mundo mágico onde tudo é possível, exatamente naquele horário no qual já estamos saturados da realidade do dia.

 Luiz Fernando Carvalho impõe sua assinatura de diretor com letras maiúsculas, antes já desenhada em obras como Hoje é dia de Maria e Capitu. Marcada pela presença das cores e da força do universo onírico, nos colocamos diante de personagens que nos põem em suspensão temporária da descrença como queria Coleridge e embarcamos no mundo do faz de conta, fazendo de conta e aceitando todas aquelas fantasias como possíveis, pois aquele universo é fixado através do olhar das crianças, narradores privilegiados que vão costurando a trama, com destaque especial para Menino Serelepe, amálgama de tantos outros ecos ficcionais (Pequeno Príncipe/Peter Pan/João Grilo/Pedro Malasartes e cia).

Através de personagens tipos que vão se adensando ao longo a trama, temos todo o microcosmo da sociedade de qualquer tempo e espaço (O CORONEL/O PADRE/O ARTISTA/O COMERCIANTE/O POLÍTICO/O IDEALISTA/A PROFESSORA/O MÉDICO), mas com uma forte sugestão de elementos da cultura brasileira como a excelente rezadeira/parteira Mãe Benta ou os simbólicos “agregados quebra-faca” como Rodapé e Zelão. Aliás, esse último roubando a cena na sua trajetória de anti-herói que vai se tornando herói através da redenção amorosa e do conhecimento.


Quanto ao cenário, figurino, maquiagem creio que não há o que comentar, a beleza é tanta que extasia. O texto é impecável, com tantas sutilezas e citações que nos eleva como leitores. Como toda boa obra literária, critica sem ser panfletária, chama a atenção para problemas reais através da alegoria e vai cumprindo seu papel de divertir e advertir. Por aqui fico porque já vai começar mais um capítulo, “trabaiei fiz mais do que pude, que nunca me farte...”

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