Para Denison Monteiro que me indicou e para minhas sobrinhas Maria Victória e Renata que
também se apaixonaram por essa história
A
série This is us, em exibição na
Amazon prime, tem todos os ingredientes de uma boa história. História daquelas
que te prendem do começo ao fim e deixam ao final de cada episódio o desejo
incontrolável de continuar acompanhando a trama. As boas narrativas não são
boas só pelo que nos contam, mas, sobretudo, como elas nos contam. O famoso
casamento feliz entre forma e conteúdo que nem todos os livros ou filmes alcançam.
E essa comunhão entre forma e conteúdo é alcançada com maestria por essa belíssima
série dirigida por Dan Fogelman que acompanha o cotidiano de uma família americana
por 04 décadas mostrando como o passado interfere no presente. Aí está um dos
seus pontos mais altos, a narração simultânea dos dois tempos.
As
histórias das famílias com todos os seus momentos de drama e comédia é um pouco
a história de todos nós. Umas famílias pendendo mais para a dor outras para o
riso, equilibrando o amargo do limão e o doce da limonada como ensina Dr. K. É claro que todas elas têm boas histórias
para contar, segredos a esconder, fatos para lembrar e outros tantos para
esquecer nas gavetas, nas cartas, nos retratos esquecidos. Assim são os
Pearson, uma família de Pittsburgh, formada pelo casal Jack (Milo Ventimiglia) e
Rebecca (Mandy Moore) e pelos trigêmeos Kevin (Justin Hartley), Kate (Chrissy
Metze), Randall ( Sterling k. Brown).
O
fato desencadeador da trama é o nascimento dos trigêmeos. Nesse dia um dos
bebês morre (Kily) e nesse mesmo instante um recém-nascido é abandonado no
Corpo de Bombeiros e levado ao hospital. Tal acaso, ou não, determinará a
formação daquela família que adota o bebê em substituição ao que morreu (temos
vários acasos na série que mudam radicalmente os destinos das personagens).
Assim temos os trigêmeos iguais e diferentes, aceitos e rejeitados, some-se o
detalhe que será um dos motores da história, que o menino adotado é negro.
É
notável o esforço dos pais para criá-los com igual amor e oportunidades e o
esforço hercúleo para dar tratamento individualizado a cada um deles, atentos para
intervir ao menor problema. O casal Jack e Bec, vivem uma das mais belas
histórias de amor que já vi, ambos vem de lares problemáticos e desejam dar aos
filhos uma infância perfeita e parecem chegar bem perto disto, não fossem os
pontos de vista e percepção de cada um dos filhos sobre os mesmos fatos
vivenciados. E chega uma hora em que cada personalidade começa a se mostrar e
exigir suas diferenças, como na festa de dez anos deles quando as crianças pedem festas
individuais com os temas da sua escolha. E na adolescência então, as diferenças
e os conflitos afloram. Teremos o estudioso/inseguro Randall, o galã/fútil
Kevin e a carente Kate, sofrendo com a sua luta constante contra a obesidade.
No
presente, temos um Randall casado com Beth, outra bela história de amor, pai de
duas filhas, um executivo bem sucedido morando numa bela casa, só ele ficou em
Pittsburgh.
Kevin, um ator frustrado de um seriado de TV em busca de um lugar ao sol no
cinema e Katy, como empresária/babá do irmão e lutando com seus fantasmas, mas que
encontrará seu grande amor nos braços e nos sorrisos do incrível Toby, outra
grande figura. Sabemos que o pai já faleceu há anos, mas só saberemos bem
depois como foi a sua morte, não darei
spoiler, vale ver a cena.
Outro
fato marcante da trama é a busca de Randall por seu pai biológico e ele o
encontra para nossa felicidade. William será uma das melhores personagens de toda a série. Aquele senhor, poeta, músico,
maltrapilho, ex-viciado, em estado terminal, tem tanto a nos ensinar que nos surpreende
em cada fala e gesto e você vai se apaixonar por ele também, assim como por seu
filho e toda a sua família. Aliás, outro ponto alto da trama é a chance que foi dada para que cada personagem, principal ou secundária, se desenvolva
plenamente e tenha seus próprios conflitos a elaborar diante de nossos olhos, tais
como Tio Nick, Doutor K, Shauna, Malic e tantos outros.
Não
seria capaz de elencar quais cenas gosto mais, de tantas que chorei muito e
de outras que ri demais...Há cenas de rara beleza como naquela em que Kevin
larga o seu lançamento para socorrer o irmão em uma crise de pânico, quando Kevin
vai ao Vietnã em busca da memória do pai e quando larga tudo para resgatar seu
Tio Nick, o Alzheimer de Rebecca, as festas do Dia de Ação de Graças, os
telefonemas a três, o casamento e formatura de Kate, adoção de Deja, outra personagem de muita
força. Kevin que era considerado o mais frívolo
dos três vai amadurecendo e se
transformando durante as décadas.
Os Pearson e todos aqueles que têm a sorte de
viver com eles vão reelaborando seu passado
para enfrentar o presente em meio a tantos temas importantes como racismo, música,
cinema, guerra, sonhos, adoção, deficiências, drogas, alcoolismo, orientação
sexual, amizade e fraternidade e muito, muito amor, pois essa família é intensa e quente como são as grandes histórias
de amor. Esses são eles, esses podemos ser nós também...This is us entra na
lista de melhores narrativas da minha vida...E por falar em boas histórias de
afetos já viram Modern Love?